terça-feira, 19 de outubro de 2010

Um momento de fraqueza [cont.]


     A noite já ia alta, eu estava embebida na lancinante agitação de minha alma quando o vi. O cabelo caindo-lhe sobre os olhos negros e aconchegantes, a risada que aquietava meu coração, o sorriso que fazia qualquer noite fria ter um sol. Eu não sei o que ele viu, mas ele me olhou, não sei com o que eu parecia, mas vi dor em seus olhos. Deu mais alguns passos em minha direção, eu o olhava vidrada, confusa talvez. Senti seus braços me apoiando, ele estava me colocando de pé. Quando entendi as palavras daquele timbre melódico, eu quis dizer a verdade, quis dizer que estava mal, que não conseguia mais. Mas tinha dor, o que me doeu mais, e tinha preocupação, o que fez meu coração querer sair do meu peito. Um soluço de agonia e lá estava eu, sentada na sala que em outras ocasiões foi quente, com uma caneca de leite morno, do jeito que só ele sabe fazer, e aqueles olhos feitos de luz e escuridão me olhando como se eu fosse a coisa mais interessante do mundo. Deixei a caneca de lado e me encolhi, foi quando ele levantou preocupado, sentou ao meu lado e passou os braços em volta do meu corpo. Fiquei quieta por muito tempo, ele apenas me olhava, as vezes me apertava um pouco, um pedido de desculpa silencioso.
     Fiquei alí, nos seus braços, adormeci quando seus carinhos aliviaram um pouco a dor. No dia seguinte eu estava em sua cama, vestindo a camiseta que muitas vezes me serviu de pijama. Assim que me virei para levantar ele postou-se de pé ao lado da cama, ansioso, com um olhar aflito. Era obvio que ele havia passado a noite a me velar, o olhei suplicante pela minha fraqueza na noite anterior, me coloquei de pé assim que ele afastou um pouco. Lamentei ter ido até sua casa, pedi-lhe meu vestido e quando fiz menção de não cruzar mais seu caminho, ele deixou minha promessa pela metade colocando o indicador sobre meus lábios me fazendo calar. “Não é hora de falarmos sobre isso, eu não queria te fazer sofrer assim...” ele beijou minha testa e eu fui, deixando-o parado no meio do quarto, sem aquele sorriso quente, com o olhar fosco pela falta da luz habitual. Eu não podia ter sido tão fraca, tão frágil, aquela não era eu.

     Marchei para fora dalí, tentando enganar, passos duros não significavam decisão, mas desejei que ele entendesse assim, desejei me enganar assim. Sempre fora uma fortaleza, sempre soube guardar o que sentia na minha armadura de bronze celestial e por momentos a despi, por momentos deixei transparecer. E indo embora tentei decidir...

Nenhum comentário:

Postar um comentário